Inspirados em intercâmbio, alunos de Belo Jardim montam projeto de intervenção artística urbana que homenageia as reais origens do povo brasileiro; confira

publicado: 12/12/2022 12h47,
última modificação: 12/12/2022 12h51

Grupo de estudantes de escola pública convida a comunidade para revisitar a História do Brasil através de expressões artísticas como lambe-lambe e grafite espalhadas pela cidade

Estampar os muros de Belo Jardim com arte coletiva repleta de História do Brasil e evidenciar assim as suas reais origens históricas através da expressão artística urbana. É assim que 20 estudantes e um professor da rede municipal de ensino, todos participantes do “Era Uma Vez…Brasil”, encerraram a sexta edição do projeto na cidade.

Inspirados por todas as vivências da iniciativa que participaram nos últimos seis meses e por um intercâmbio de 10 dias em Portugal, realizado em novembro, o grupo criou coletivamente um projeto de intervenção artística urbana que reconta a História do Brasil a partir de outro olhar, saindo da visão eurocentrada e elevando a percepção a uma ótica que dá vez e voz aos povos originários, quilombolas, e aos que aqui foram escravizados.

Em um convite aberto à toda a comunidade, o grupo realiza, no próximo dia 17 de dezembro, ações que irão permear a cidade de Belo Jardim e o distrito de Xucuru com intervenções de lambe-lambes e painel de grafite, projetos artísticos idealizados e desenvolvidos durante três oficinas que integram a etapa Comunidade, fase final do projeto Era Uma Vez…Brasil, desenvolvido há seis anos em Belo Jardim pela Origem Produções em parceria e com patrocínio do Instituto Conceição Moura.

Ministrada pelas educadoras Graziella Queiroz e Karla Fagundes, as oficinas têm o objetivo de instigar a criticidade dos adolescentes pautada em lugares e grupos de memória e esquecimento atravessados pelo Brasil colonial, patriarcal e racista, aguçando a sua percepção para o desenvolvimento do projeto final.

“Identificamos que, durante o intercâmbio, o elemento da arte, sobretudo a produção artística urbana e periférica nas comunidades de Lisboa, assim como a passagem pelas instituições e museus, somados às análises de como a narrativa histórica foi ensinada aqui, foram pontos de destaque. Então, a partir disso, foi decidido pelos participantes por realizarem intervenções urbanas artísticas em Belo Jardim, com lambes e grafite. Expressões que valorizam, por exemplo, a memória indígena, já que a cidade possui um distrito com nome da etnia Xukuru, povo que foi historicamente apagado dali”, destacam as educadoras Graziella Queiroz e Karla Fagundes.

A etapa Comunidade representa um legado de real impacto social deixado pelo “Era Uma Vez…Brasil” para a cidade. Nela, cada adolescente participante se torna um multiplicador da mensagem e da missão do projeto, impactando seus municípios, bairros, escolas.

“O projeto nos leva por uma verdadeira imersão cultural em que aprendemos de forma coletiva e ativa, já que, muito diferente da escola tradicional, estamos lá vivendo e ouvindo relatos de pessoas, reaprendendo sobre a nossa História. Em Portugal, imersos dessa vez na terra do colonizador, a gente tem a oportunidade de não só entender a visão deles sobre nós, mas levar a nossa também. Fomos lá aprendizes e professores. Agora, nessa última etapa, trabalhamos em um novo projeto, para as nossas comunidades. Pegamos toda a bagagem de conhecimento dessas imersões culturais e trazemos isso pro ambiente em que vivemos, com linguagem acessível, democrática e de forma que envolva a nossa comunidade”, resume Ana Clara dos Santos Ramos Lopes, aluna da Escola Municipal Luiza Leopoldina Lopes, de Belo Jardim.

PROTAGONISMO DOS POVOS ORIGINÁRIOS – Nas ações pensadas pelo grupo de estudantes para o dia 17 de dezembro, que acontecem pela manhã e à tarde em belo Jardim e distrito de Xucuru, haverá o chamamento da comunidade para a colagem de lambe-lambes com mensagens alusivas à temática do projeto, com frases anti racistas, sobre a luta indígena, citações de pensadores negros e indígenas. Além disso, haverá a inauguração de um mural de grafite na entrada de Xucuru. Na arte, representações do povo xukuru, etnia indígena que dá nome a cidade, além de elementos culturais importantes da identidade local: confecção de abanos e arupembas, mulheres rezadeiras, o uso de plantas em costumes locais e outras representações da cultura nordestina.

HISTÓRIA NA PRÁTICA – O “Era Uma Vez… Brasil” é um programa de atividades educativas, artísticas e culturais , que exalta a diversidade, pluralidade e ancestralidade da formação identitária histórica e cultural do Brasil, valorizando a perspectiva dos povos indígenas e africanos e trabalhando conceitos fundamentais como antirracismo, afrocentricidade, indigenismo, ecossocialismo. Durante as suas quatro etapas, alunos e professores passam por vivências e atividades que destacam esses conceitos, visitando aldeias indígenas e comunidades quilombolas.

Nesta sexta edição, desde março, vem mobilizando simultaneamente alunos do oitavo e nono ano da rede pública de ensino de três estados e oito cidades brasileiras: Salvador, Mata de São João e Jacobina (BA), Belo Jardim (PE), Ribeirão Preto, Lençóis Paulista, Serrana e Macatuba (SP). O “Era Uma Vez… Brasil” conta com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, pelo Ministério do Turismo, Governo Federal.